casos clínicos

Lagarta Processionária (Lagarta do Pinheiro)

Apresentação Clínica do Caso

 

Canídeo, fêmea, SRD, com 3 meses de idade, 2,700 kg de peso, não vacinada nem desparasitada. Apresentou-se à consulta com dor na abertura da boca, prostrada, com hipersalivação e edema ligeiro do focinho, na região ventral ao pescoço. A língua apresentava-se cianosada, fétida e com petéquias. Estava ligeiramente hipotérmica.

 

Definição

 

A Lagarta Processionária, também conhecida como “Lagarta do Pinheiro”, pode ser considerada uma praga que ataca sobretudo os pinheiros, fazendo os seus ninhos (semelhantes a novelos brancos), nos ramos mais altos. Estas alimentam-se das partes mais tenras das agulhas do pinheiro, acabando por destruir grandes áreas do mesmo.

Os meses compreendidos entre Fevereiro e Maio são normalmente os mais perigosos para a saúde pública e animal, uma vez que é nesta altura que as lagartas interrompem a sua alimentação e iniciam a conhecida “procissão”, em que todas agrupadas, se dirigem em direção ao solo por forma a se enterrarem e a tecerem um casulo, transformando-se em crisálidas.

Apenas a segunda fase larvar deste inseto, que corresponde à lagarta que migra dos pinheiros para o solo, constitui um verdadeiro perigo para nós e para os nossos animais, uma vez que o seu corpo é coberto de pelos urticantes, que em contacto com a pele ou mucosas, provocam uma severa reação anafilática.

Os cães são normalmente os mais afetados, já que as lagartas em movimento lhes despertam grande curiosidade, fazendo com que entrem em contacto com os pelos urticantes mais facilmente. A situação mais severa acontece quando as lagartas são mordidas ou ingeridas, levando à necrose dos tecidos da língua e da cavidade oral.

A única forma de prevenir o contacto com esta lagarta, é evitar os locais onde existam pinheiros, bem como não deixar os nossos animais passearem soltos e sem supervisão.

 

 

Sinais Clínicos

 

Os principais sinais clínicos passam pela salivação excessiva, prurido/dor na região do focinho e edema facial, sendo uma situação de extrema urgência veterinária, podendo mesmo terminar na morte do animal.

 

Diagnóstico

 

Foram realizadas provas de coagulação (sem alterações) e análises sanguíneas (que demonstraram a presença de leucopenia e aumento da ureia e ALP), bem como exames imagiológicos sem alterações.

Devido à apresentação dos sinais, e pelo facto do animal viver num ambiente com pinheiros, um dos diagnósticos diferenciais passou por uma reação de hipersensibilidade à Processionária, tendo sido iniciado tratamento para tal.

O prognóstico era bastante reservado, uma vez que não sabíamos qual a área afetada da língua, e por consequência, se esta iria ser funcional no futuro.

 

Tratamento

 

A cadelinha ficou internada no nosso hospital, tendo-lhe sido colocada uma sonda nasogástrica para auxílio da alimentação, bem como iniciada terapêutica de suporte, por forma a controlar a dor e os sinais clínicos provocados pelo contacto com os pelos urticantes da Processionária.

Com o passar dos dias, a atitude da cadelinha foi melhorando, bem como o edema do focinho e aspeto da língua, dando a entender que apenas o terço da sua porção rostral iria cair.

Foi agendado o desbridamento dos tecidos moles da cavidade oral, para cerca de uma semana mais tarde, por forma a podermos controlar o desenvolvimento do resto do tecido lingual.

Uma vez que estava confortável, teve alta em 4 dias, esperando em casa, (e continuando a ser alimentada pela sonda), pelo dia da cirurgia.

Nesse período de tempo, a cadelinha começou a mostrar interesse por comida sólida, tendo conseguido comer e beber água, sozinha.

Dois dias antes da cirurgia, apresentou-se a consulta de reavaliação no nosso hospital, já sem o terço rostral da língua que estava necrosado, estando a restante porção da língua com bom aspeto. Desta forma, já não houve a necessidade de desbridamento cirúrgico.