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Caso Clínico: Corpo estranho gástrico e intestinal

Apresentação Clínica do Caso

Canídeo, fêmea, 2 anos de idade, 31 Kg, raça Labrador Retriever, não castrado, vacinado e desparasitado. Dirigiu-se à consulta por apresentar desequilíbrio, caindo quando abanava a cabeça. A cadela tinha um apetite voraz e tinha hábito de ingerir tudo o que encontrava. Os proprietários referiram que no dia anterior, haviam notado que a coleira anti-pulgas e anti-carraças desaparecera.

No exame físico não se detectaram quaisquer alterações à excepção de ligeira descoordenação dos membros posteriores. Uma vez que os sinais não melhoraram durante o dia (apresentava também tremores), ficou internada para observação. Suspeitou-se de intoxicação pelo principio activo da coleia, a deltametrina, cujos sinais são maioritariamente do tipo neurológico: tremores, incoordenação, convulsões, são alguns deles.

Foram realizadas análises sanguíneas que estavam normais e um raio X que evidenciou a presença de um corpo estranho no estômago.

A cadela foi submetida a um gastrotomia e a uma enterotomia de urgência para remoção da coleira que estava em pedaços e ainda porções de brinquedos de borracha.

Recuperou rapidamente da cirurgia tendo alta 3 dias depois já com atitude totalmente normal e o apetite restabelecido.

Definição

Um corpo estranho gástrico ou intestinal, é a presença um item no interior do estômago ou intestino, ingerido pelo animal. Este corpo estranho pode não passar do estômago para o intestino, ou, se estiver no intestino poderá provocar uma obstrução à passagem do conteúdo normal deste órgão.

Sinais Clínicos

O sinal mais frequente destas condições é a presença de vómito, no entanto outros sinais podem surgir como perda de apetite, prostração, dor abdominal e diarreia. Se o item ingerido é tóxico, por exemplo, uma coleira anti-pulgas ou objectos com chumbo, podem ainda surgir sinais associados à intoxicação por eles provocada. Os sinais de doença podem ser agudos ou então estar presentes ao longo de vários dias dependendo do grau de obstrução e consequente dano que estão a provocar.

O maior risco associado à obstrução intestinal pela presença de um corpo estranho, é a ruptura do mesmo órgão e saída do conteúdo intestinal para a cavidade abdominal provocando uma infecção grave designada peritonite. Por esse motivo um diagnóstico precoce e intervenção cirúrgica de urgência são imperativos nestes casos.

Diagnóstico

O diagnóstico é geralmente realizado através de raio x abdominal e de ecografia abdominal. É também importante realizar-se análises sanguíneas como hemograma e um painel bioquímico geral para descantar outras causas dos sinais como o vómito.

Tratamento

O tratamento geralmente é a remoção cirúrgica do corpo estranho através de uma gastrotomia (abertura do estômago) ou enterotomia (abertura do intestino).

Por vezes, pela gravidade da obstrução e dano dos tecidos no local, é necessário realizar também uma enterectomia (remoção de porção do intestino). No caso de corpos estranhos gástricos dependendo do tamanho e características do mesmo poderá ser possível a sua remoção via endoscopia (remoção através de tubo inserido pela boca até ao estômago com câmara de vídeo simultaneamente).

No pós-operatório são necessários alguns cuidados com repouso, uma alimentação mole nos primeiros dias, antibioterapia e analgesia.