casos clínicos

Hipoadrenocorticismo Canino (Doença de Addison)

Apresentação Clínica do Caso

A Kitty é uma Yorkshire Terrier, não esterilizada, com 5 anos de idade. Encontrava-se devidamente vacinada e desparasitada, vivia no interior de casa e fazia passeios esporádicos no exterior, sem coabitantes e foi diagnosticada com Hipoadrenocorticismo Canino.

Dirigiu-se à consulta, referida por outro centro de atendimento médico-veterinário, por apresentar prostração e anorexia há cerca de uma semana, bem como tremores e fraqueza muscular.

Foi realizada uma ecografia abdominal que revelou presença de uma úlcera duodenal, análises sanguíneas que demonstraram hipoglicemia, hipercalemia, hiponatremia e hipocloremia, rácio Na:K inferior a 27, bem como diminuição da concentração sérica de cortisol.

Face à suspeita de Doença de Addison, realizou-se o teste golden standard para diagnóstico desta patologia, que confirmou as nossas suspeitas, e iniciou-se o tratamento. Procedeu-se a uma ecografia abdominal de controlo que revelou a resolução da úlcera duodenal e tamanho muito reduzido das glândulas adrenais.

Após medicação, internamento durante 3 dias e controlos diários dos valores analíticos a Kitty teve alta com a medicação de manutenção, apresentado boa atitude, valores analíticos normais e ausência total dos sinais clínicos.

Definição

O hipoadrenocorticismo – ou doença de Addison – é uma patologia resultante da ausência de produção e/ou secreção de glucocorticóides e mineralocorticóides pelas glândulas adrenais.

Sinais Clínicos

Esta doença é também chamada de “o grande imitador” pois os sinais clínicos são bastante inespecíficos e podem ser atribuídos a diferentes sistemas.

Na maioria dos casos esta doença ocorre em fêmeas e a média de idade ao diagnóstico é de 4 a 5 anos. Os sinais clínicos mais frequentes são: fraqueza, letargia, tremores generalizados e desidratação. Pode também ocorrer diarreia, perda de peso, anemia, poliúria e polidipsia, hematemese, hematosquezia, alopecia e convulsões.

Os achados analíticos mais comuns são:

  • hipercalémia;
  • hiponatrémia e hipocloremia (consequentes da deficiência em mineralocorticóides);
  • razão Na:K inferior a 27;
  • azotemia (secundária a hipoperfusão renal pela hipovolemia) e hipoglicemia (por ausência do cortisol, que é uma molécula reguladora da homeostase da glicose);
  • diminuição do cortisol sérico.

À ecografia abdominal, na grande maioria dos casos, observam-se as glândulas adrenais de tamanho reduzido e podem sem encontradas também alterações no sistema digestivo.

Ecografia

Diagnóstico

O teste de eleição para diagnóstico de hipoadrenocorticismo é o teste de estimulação com a hormona adrenocorticotrópica (ACTH).

Este teste permite avaliar a capacidade das glândulas adrenais para produzirem cortisol, sendo que os animais com esta patologia apresentam uma produção inadequada de cortisol face ao estímulo com esta hormona.

O procedimento consiste em recolher amostras de sangue antes e 1-2 horas depois da administração de ACTH, para a medição dos níveis de cortisol. Um valor inferior a 55,2 nmol/l (2µg/dl) confirma o diagnóstico de hipoadrenocorticismo.

Ecografia

Tratamento

O tratamento consiste em corrigir as alterações electrolíticas, a hipoglicemia, e suplementar externamente a falta de mineralocorticóides e glucocorticóides que o animal não consegue produzir.

É necessário realizar fluidoterapia com NaCl 0,9%, suplementar o soro com glucose ou dextrose (no caso de haver hipoglicemia), administrar glucocorticóides (ex.prednisona) e mineralocorticóides (ex.desoxicorticosterona).

Após ser controlada a crise adisoniana, o animal terá de fazer medicação para toda a vida com mineralocorticóides e glucocorticóides orais.

Devem fazer-se controlos regulares do ionograma e ajustes na dose, sobretudo nos primeiros 3 meses após início de terapêutica. Para além disso deve ser aumentada a dose de medicação sempre que ocorra alguma situação de potencial stress.

Animais com hipoadrenocorticismo, tratados e monitorizados adequadamente podem fazer a sua vida normal, sem muitas restrições às suas actividades usais, pelo que o prognóstico é bom quando o diagnóstico e tratamento são realizados atempadamente.

Em caso de emergência, não hesite em  contactar a Animed – Hospital Veterinário.

 

Bibliografia

  1. 1.Klein SC, Peterson ME (2010) “Review article – Canine hypoadrenocorticism: Part I” The Canadian Veterinary Journal 51 : 63 – 69
  2. Mooney CT, Peterson ME (2012) BSAVA Manual of Canine and Feline Endocrinology, 4th Ed, BSAVA, pp. 156-165
  3. Klein SC, Peterson ME (2010) “Review article – Canine hypoadrenocorticism: Part II” The Canadian Veterinary Journal 51: 179-184
  4. Couto GC, Nelson RW (2009) “Endocrine Disorders” Small Animal Internal Medicine, 4th Ed, pp. 836-842